Rumo a um mundo novo

(Parte 2) Crianças (e adultos) capazes de reparar e aprender com seus erros

Dicas

 

Por Carolina Harris, Psicóloga

A maioria dos pais anseiam que seus filhos aprendam a interagir com os outros fazendo a coisa certa, cooperando, sendo responsáveis e compreensivos. No entanto, na realidade nos encontramos com nossas imperfeições, mal-entendidos e conflitos. O que às vezes não sabemos é que é precisamente nesses momentos que se cria uma nova oportunidade de aprendizagem, de senso de responsabilidade e de crescimento nas relações.

As crianças não têm por que ser perfeitas, nós também não somos. Para que nossos filhos possam deixar um impacto positivo no mundo, eles precisam aprender gradualmente a agir com responsabilidade quando se equivocam, mas também com autocompaixão.

Às vezes, ficamos com a impressão errada de que, nas boas relações, as pessoas se mantêm o tempo todo em sintonia. No entanto, relações saudáveis ​​e livres de conflitos não existem.

De fato, tem-se estudado que no vínculo parento-filial em média 70% das interações se dão fora de sintonia, incluindo, por exemplo: os momentos em que, como pais, não podemos estar emocionalmente disponíveis devido a uma ligação telefônica importante; ou aquelas em que uma criança não está disposta a nos ouvir enquanto lhe damos ordem para tirar seus brinquedos do chão.

Nessas situações, devemos sempre lembrar que a parte mais importante não é o momento de desencontro, mas a capacidade de nos reencontrarmos nas interações humanas, e que podem encher as experiências de desajuste e equívocos com novos significados positivos.

Por isso, devemos apaziguar essa profunda necessidade de buscar a perfeição na parentalidade e em atribuí-la também às crianças. Podemos ter uma visão mais compassiva de nós mesmos e dos outros.

Quando uma criança pequena vive com a expectativa da perfeição o tempo todo, não há oportunidades de transformar um momento ruim em um bom. Pelo contrário, quando na parentalidade, o adulto coloca limites na conduta, mas cuida dessa capacidade progressiva da criança para reparar, ela pode se sentir segura de que seus cuidadores podem tolerar aquele momento de desencontro e, ao mesmo tempo, buscar as maneiras para restabelecer a relação e o vínculo novamente.

Reparar gera um potencial de mudança e aprendizagem.

Podemos compreender a partir deste ponto de vista que reparar, nas relações humanas, é o ato, após um momento de desencontro, com uma resolução positiva que convida ao reencontro. Na vida e nos vínculos, coordenamos e descoordenamos o tempo todo, porém reparar devolve a sensação de prazer, confiança e segurança a uma relação e convida à aprendizagem.

É por isso que em uma relação segura e confiável entre pais e filhos, ao reparar, podemos ressignificar um momento de aborrecimento de um cuidador, não mais como um abandono ou falta de amor, mas como uma situação de intensa emoção em que pode ter havido um desencontro e, se houver algum dano, o mesmo tem o potencial de ser reparado. A reparação tem o poder de modificar as circunstâncias. Oferecemos um ambiente onde as relações são seguras e onde as experiências difíceis são aceitas, contidas e podem ser consertadas. Assim, pouco a pouco as crianças vão internalizando estratégias para consertar o acontecido.

Benefícios de reparar: fortalecer as bases do desenvolvimento socioemocional.

As primeiras interações de reparação moldadas pelos cuidadores podem fornecer uma base para o desenvolvimento da regulação de emoções e de conduta, no processo em que uma experiência passa do “negativo ao positivo”, como quando uma criança chora por que ficamos com raiva, mas depois consegue se acalmar quando vê que decidimos assumir o controle da situação e nos voltar para a relação.

Assim, quando em vez de nos concentrarmos em castigos, nos concentramos em criar os espaços para uma criança aprender a reparar, podemos ensiná-la a consertar e ela tem a oportunidade de fazer melhor na próxima vez.

Pelo contrário, quando nos concentramos em envergonhar e rejeitar uma criança pela sua conduta, ensinamos a ela que não há possibilidade de consertar o seu equívoco, porque a fazemos sentir que Ela é o equívoco.

Ensinar para as crianças, a partir do exemplo do adulto, a capacidade de reparar quando cometemos erros: 5 passos para um reparar consciente segundo Rob Fischer.

A capacidade de lidar com circunstâncias difíceis da vida começa com a capacidade de resolver situações complexas na primeira infância. É por isso que podemos ser adultos que ensinam a reconectar e reparar por meio do exemplo.

Podemos moldar essa capacidade a partir da nossa própria conduta com base em 5 passos, sendo conscientes de cumprir as promessas que fazemos às nossas crianças.

  1. Reconheça o que aconteceu: “Eu sei que gritei muito alto com você”.
  2. Sintonizar: Reconheça o impacto no outro. “Eu percebo que isso pode ter assustado você”.
  3. Peça desculpas: “Me desculpe por ter gritado assim”.
  4. Nova aprendizagem: “Na próxima vez que precisar que você me escute, tentarei me acalmar primeiro”.
  5. Consertar com ações, palavras, possível tato: “Vou te abraçar e te dar um beijo para você ver que isso já passou e que podemos estar juntos de novo”.

 

Referências:

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