A coparentalidade atua como um escudo protetor quando os pais se separam. Em uma primeira etapa, facilita o processo de adaptação de todos os integrantes da família. E ao longo dos anos, permite que a criança tenha uma boa relação com ambos os pais, e que não se veja afetada pelas mudanças que implica ter pais separados (ter duas casas, novos parceiros, etc.).
A coparentalidade em famílias com pais separados tende a ser mal interpretada com dividir equitativamente o tempo com os filhos (por exemplo, uma semana com a mãe e uma semana com o pai). E na verdade não tem nada a ver com isso.
A coparentalidade é a relação de apoio e coordenação que as figuras parentais estabelecem para realizar a criação dos filhos (sejam ou não um casal, tenham ou não o mesmo número de dias com as crianças).
Diz-se que há uma boa coparentalidade entre os cuidadores quando prevalece o apoio e a coordenação entre as partes. E negativa, quando prevalece o desacordo, o conflito e a falta de afeto.
Quando há uma boa coparentalidade, por muito diferentes que sejam os estilos, valores e preferências de cada um dos pais, consegue-se chegar a acordos que são importantes para a criança. De coisas simples, como a quantidade de horas diante de telas, a coisas mais complexas, como o momento de parar de usar fraldas, o estilo de disciplina ou a escolha da escola.
É importante esclarecer que quando prevalece o acordo em coisas importantes, as crianças não se veem prejudicadas se existem pequenas diferenças entre suas duas casas (por exemplo, se em uma casa se come assistindo TV e na outra não). Porque entendem que a mãe e o pai são diferentes, mas conversam e entram em acordo quanto a coisas importantes.
Sobre isso, um segundo esclarecimento importante é que os pais não precisam concordar em tudo para se darem bem. Mark E. Feinberg, especialista no assunto, afirma que quando há uma boa relação de coparentalidade, as figuras parentais consentem a pensar de forma diferente em alguns aspectos, mas se apoiam, negociam e assumem compromissos.
Outra coisa importante é a divisão do trabalho. Em famílias com pais separados, dois fenômenos tendem a ocorrer: o cuidador que mora com as crianças tende a ter mais responsabilidades do que o cuidador que não mora com as crianças, e as responsabilidades tendem a ser distribuídas nos momentos em que estão com as crianças (por exemplo, o pai assume a responsabilidade por certas coisas quando está com as crianças, mas quando as crianças estão com a mãe, ele se desapega).
Embora se espere que o cuidador que vive com as crianças tenha mais responsabilidades, isso não significa que as tarefas não possam ser divididas e que o pai que não mora com os filhos não possa ter responsabilidades quando não está com os filhos (como por exemplo deixar os filhos na escola, levá-las ao médico ou buscá-las em uma festa de aniversário).
A divisão de tarefas traz enormes benefícios para todos os integrantes da família. Por um lado, o pai que mora com as crianças se sente apoiado e atenuado de responsabilidades. Isso permite que ele fique emocionalmente mais tranquilo (o que beneficia significativamente as crianças) e ter uma melhor relação de coparentalidade.
Por outro lado, as crianças sentem que o pai que não mora com eles também está presente e ciente de suas necessidades e cuidados. E o que é mais importante ainda, sentem que a mãe e o pai são uma equipe, que eles se organizam e se ajudam de forma recíproca.
Outro grande item da coparentalidade é o suporte ou o grau em que as figuras parentais se consideram e se apoiam mutuamente. Trata-se de reconhecer o outro em seu papel, valorizar suas contribuições e respeitar seu ponto de vista: “Joãozinho, vou conversar com seu pai sobre as aulas de futebol e te falo”; “Maria, vamos ligar para sua mãe para contar como foi no médico”; “Pedrinho, não posso esconder o que aconteceu da mamãe . Ela é sua mãe e nós, como seus pais, sempre conversamos sobre você”.
Quando não há uma boa coparentalidade, os cuidadores se culpam, criticam e desvalorizam um ao outro. Isso expõe a criança ao conflito, gera altos níveis de estresse, pode prejudicar a relação com o cuidador criticado e levar a criança a proteger o cuidador criticado (papel que não corresponde a ela).
Finalmente, a gestão familiar aponta a quanto os pais são capazes de conter o conflito diante dos filhos e não os envolver, de ter boa comunicação, de organizar os tempos, etc.
Os estudos sobre isso são claros: o conflito parental prejudica as crianças, por isso é extremamente importante que os cuidadores se esforcem para conter suas dificuldades na frente das mesmas.
Igualmente, os pais precisam ser capazes de ter uma boa comunicação, mesmo que seja através de e-mails ou mensagens de texto. Quando a comunicação com o outro é cortada, os filhos acabam sendo os mensageiros, o que faz muito mal para eles.
Finalmente, a organização dos tempos também é importante. Independentemente do regime de visitas estabelecido, é muito benéfico que os pais sejam capazes de se ajudar quando enfrentam uma dificuldade ou serem mais flexíveis quando há algo importante.
A coparentalidade nunca é fácil e constitui um dos grandes desafios quando alguém se separa. Mas pelos grandes benefícios que traz, vale a pena fazer o esforço.
Às vezes, em um primeiro momento, é muito difícil alcançá-la, pois os pais estão imersos em seus próprios processos e é difícil estabelecer limites saudáveis entre ser pais e ex-parceiros. Mas, com o tempo, pode-se consegui-la, especialmente quando ambas as partes se empenham nisso.