Crianças pequenas têm dificuldade em fazer as coisas que pedimos (por exemplo se vestir, arrumar, escovar os dentes), porque estão aprendendo agora que há limites e ainda não têm maturidade cerebral para controlar seus impulsos e regular sua conduta (a isso também se soma o oposicionismo típico desta idade).
É por isso que esperar que crianças pequenas obedeçam é uma expectativa irreal. As crianças precisam de nós para ajudá-las a fazer isso, da mesma forma que precisam de nossa ajuda em outras aprendizagens.
A rotina é uma das coisas mais importantes para cumprir com este processo, pois gera condições que ajudam as crianças (e nós) a regular sua conduta:
A rotina permite que a criança saiba o que pode fazer e quando: A rotina gera uma estrutura que define o que pode ser feito e em que horários. Por exemplo, se uma criança não tem horários para assistir televisão, ela sempre vai estar pedindo para assistir televisão (porque sempre é possível) e terá acessos de raiva quando alguém lhe disser que não. Pelo contrário, se ela sabe que só pode assistir televisão depois do almoço, tem expectativas realistas de quando é possível e quando não é. Isso lhe permite esperar o horário ou compreender mais facilmente quando pedir para ver em outro horário e ouvir um não.
Essa estrutura também regula as atividades que as crianças não gostam tanto de fazer, como se vestir. Se não houver um horário definido, é algo que sempre pode ser adiado. Aparecem as famosas “mais tarde, mãe” e o momento de se vestir acaba se tornando uma batalha campal.
Esse poder regulador pode ser potenciado se ao lembrar a estrutura para a criança nos conectarmos com ela e validarmos o que está acontecendo com ela. Continuando com os exemplos anteriores: “Sei que você realmente quer assistir televisão. Mas lembre-se que você pode assistir TV depois do almoço”; “Você não gosta de se vestir, eu sei. Mas é hora de se vestir”.
A rotina permite que as crianças saibam qual atividade vem depois do que estão fazendo. Isso permite que as crianças tenham expectativas realistas e se preparem mentalmente para o que está por vir. Quanto ao primeiro, se a criança sabe que depois de comer vem o banho, ela não tem a expectativa de que depois de comer vá pintar. E se tiver, ficará menos frustrada quando pedir para pintar e for lembrada de que depois de comer vem o banho.
Quanto ao segundo, é difícil para as crianças passar de uma atividade para outra. Especialmente quando se trata de algo que elas não gostam muito. Então saber o que vem a seguir as deixa mentalmente preparadas para a mudança, especialmente quando o cuidador, de forma carinhosa, vai antecipando. Continuando com o exemplo anterior: “Meu amor, quando acabar de comer, você vai tomar banho”.
A rotina tem o poder de tornar uma atividade pouco agradável ou pouco motivadora em um hábito: Como as crianças fazem o mesmo todos os dias, acostumam-se e acabam fazendo as coisas quase de maneira automática (por exemplo, ir ao banheiro quando acordam ou depois do almoço).
A rotina favorece a regulação dos estados corporais, como a fome, o sono e/ou o cansaço: Quando as crianças têm suas necessidades fisiológicas satisfeitas, têm maiores níveis de tolerância, estão mais receptivas e, portanto, custa menos para elas fazer o que pedimos.
Uma boa rotina também nos ajuda a fazer as crianças comer e dormir. Se o dia tem uma estrutura que permite que as crianças não cheguem cansadas demais para comer e dormir, tudo fica mais fácil. Soma-se a isso que o corpo da criança se acostuma a ter fome e sono a mesma hora todos os dias.
Resumindo, podemos perceber que a rotina gera no dia a dia uma estrutura que nos ajuda a ajudar as crianças a fazerem as coisas que lhes pedimos e que nem sempre querem fazer. Isso traz enormes benefícios para o vínculo e o desenvolvimento socioemocional das crianças. Reduz as batalhas, os níveis de reatividade (tanto deles como nossos) e algo que é muito importante, nutre seu sentido de competência.